A Independência que Almejamos (Texto)

A Independência que Almejamos.

Prof. Kleiton Santiago





O brado de “independência ou morte”, atribuído ao príncipe regente Dom Pedro de Alcântara, às margens do rio Ipiranga, nas cercanias de São Paulo, no dia 7 de setembro de 1822, guarda poucos traços de realidade e diversos contornos de elaboração imagética de memória oficial. Afinal, há uma fórmula antiga de se perpetuar no poder a partir da fabricação de mitos, heróis e mártires. Quadros como os do pintor Pedro Américo, que criou representações de Tiradentes e da Independência do Brasil têm ilustrados há gerações nossa literatura didática, cristalizando, em diversos momentos, uma compreensão errônea de que a história é feita apenas por grandes “personalidades” e grandes eventos. Essa cultura de heróis fantasia a realidade ao tornar a experiência humana mais contemplativa que reflexiva. Nossas eleições são um bom exemplo desse culto personalista sem criticidade, sem projetos de transformação social e sem memória que envolve o cenário político atual. Devemos lembrar que não existe cidadania pautada na ignorância coletiva. O problema é que nossas verdadeiras origens são negadas. É negada a população brasileira o direito de conhecer que esse país foi construído não apenas por políticos, militares ou empreendedores, mas sobre os ombros de um povo em sua maioria pobre, mestiço, bastante africanizado e indígena. Há uma inversão de valores, onde o que deveria ser motivo de orgulho se transforma em vergonha. Como os tristes exemplos de filhos mal criados que negam a humildade honesta dos pais. A questão é que não podemos falar de independência de fato sem associar essa ideia ao conceito de emancipação humana e de consciência. Estamos longe desse status de emancipação. Somos um país de dimensões continentais, de recursos privilegiados, mas dependente de tecnologias estrangeiras, e o que é pior, há um pensamento hegemônico que considera tudo que é europeu e norte americano melhor do que o que é brasileiro. Supervalorizamos o internacional em detrimento do nacional. Não conseguimos ser independentes nem no modo de nomear nossos negócios, e em diversas oportunidades, nossas ações. Usamos indiscriminadamente palavras e expressões em inglês quando poderíamos simplesmente usar nosso idioma. Por esse motivo recai sobre nós a responsabilidade de buscar a independência do pensamento nacional, lutando por uma sociedade que valorize de fato uma educação emancipadora, ou nas palavras de Paulo Freire, uma pedagogia da autonomia. Devemos lutar todos os dias, e não apenas de quatro em quatro anos por um país mais justo, onde a cidadania possa realmente ser um direito de todos. Essa meus amigos é a independência que almejamos.


Fortaleza 05 de setembro de 2014

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